O amigo Woody Allen

Chegou hoje às salas de cinema o novo filme do Woody Allen, Vicky Cristina Barcelona. Critica-se muito os artistas que lançam uma nova obra todos os anos. Que não há novidade, que está a repetir-se, que está em declínio, que antigamente é que era, que, que e que. Mas ver um filme do Woody Allen todos os anos, como ler um livro do José Saramago a cada Outono, ou do Gonçalo M. Tavares, ou da Ana Teresa Pereira, só para referir alguns exemplos nacionais, é como encontrar um amigo nas férias grandes. Às vezes parece-nos distante, outras vezes na mesma. Às vezes não nos reconhecemos nos tempos passados juntos, outras vezes conquistamos novos horizontes para uma longa amizade. Claro que não tem o impacto de um grande amor, que revemos depois de muitas primaveras, mesmo sabendo que a história não se repete. Mas tem a beleza da cumplicidade, do envelhecimento partilhado, do entendimento mais profundo das camadas subliminares. É vermo-nos espelhados na obra daquele artista porque ela também nos pertence. Fomos moldados por ela. Crescemos na sua sombra. Fomos guiádos pela sua luz.