Fonoteca Bin Laden


Está bom de ver que esta história das gravações do Ossama Bin Laden, como a que se noticiou ontem, é o embuste do milénio. Quem é que acredita que o homem ainda está vivo? Ninguém, nem o George W. Bush. De outra forma o presidente do EUA não teria ido ao Iraque, com aquele ar tão aliviado, para a famosa cerimónia do peru de plástico. Ou aumentado, sem receios, o contingente americano no Afeganistão. A coisa está preta, toda a gente sabe disso, até o George W. Bush, mas dead or alive a figura já não chateia ninguém.
Isso não quer dizer que a malta porreira da Al-Qaeda não seja esperta. Os gajos têm cabeça e pensaram em tudo. Vendo a morte iminente do líder – há quem diga que o último ciclo de hemodiálise não conseguiu suster a sua insuficiência renal – tiveram uma ideia. «Xeque Ossama», disseram, «o que acha de criarmos um arquivo sonoro, uma espécie de fonoteca, com gravações suas para emitirmos depois da sua morte, que Ala o proteja?».
Deve ter sido como a Coca-Cola. Primeiro estranha-se, depois entranha-se. De início, Bin Laden desconfiou. Mais tarde, aceitou com agrado a proposta. Contundo, questionou os colegas de armas: «Então, e devo falar sobre o quê?» Astutos, os números dois, três, quatro e restantes da organização terrorista replicaram com entusiasmo: «Sobre tudo, meu Xeque».
Foram dias e dias de conversas gravadas nas soturnas cavernas junto à fronteira do Paquistão. E os temas sucederam-se: uma invasão americana do Irão, uma nova guerra Irão-Iraque, a queda da família real da Arábia Saudita, a ocidentalização da Síria e da Jordânia, o regresso dos Talibã ao Afeganistão, uma guerra atómica entre a Índia e o Paquistão, a jihad perpétua, o fim do Estado de Israel, a nova invasão deste ao Líbano ou à Palestina, etc, etc. Nenhum conflito histórico ou enclave geográfico escapou à oratória de Bin Laden, nem à minúcia arquivística dos seus súbditos.
Em ficheiros mp3, para facilitar a difusão na Internet, que não havia no tempo do profeta, mas não faz mal, serve a boa causa, pode-se usar, os diligentes continuadores da opus Ossama lá esperam pelos acontecimentos. Por uma oportunidade para divulgar a boa nova do mestre. Chegou agora. Em Gaza. E ainda há quem pense que ele continua vivo.

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